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quarta-feira, 3 de abril de 2013

NOTÍCIAS LEO - ENTREVISTA PARA O JORNAL POPULAR

“Minhas palavras arrastadas são sinceras”

Qual figura pública melhor representa Goiás atualmente? A pergunta foi feita aos participantes da pesquisa Observatório/O POPULAR sobre como é a cara do goiano e as respostas convergiram para uma unanimidade: o cantor Leonardo. Sucesso nacional, ele tem em Goiás sua casa, seu refúgio, sua família e isso contou pontos na opinião dos entrevistados. Carismático, simples, bem humorado, cantor de sucesso são aspectos que geram identificação e empatia. Leonardo conversou com O POPULAR por telefone de São Paulo, onde estava gravando, sobre a pesquisa que o colocou como um símbolo de Goiás. Na entrevista, ele mostrou-se honrado por ser visto de forma tão positiva, disse amar o Estado e seu povo, confirmou ser “goiano do pé rachado”, elogiou os novos sertanejos, alegou que campo e cidade se misturam hoje em dia e brincou sobre seu jeitão simples de ser e falar: “sou meio besta mesmo”.

Rogério Borges
02 de abril de 2013 (terça-feira)

Perfil

Emival Eterno da Costa, o cantor Leonardo, começou a carreira ao lado do irmão Luis José, o Leandro, cantando em bares de Goiânia e do interior em meados dos anos 1980. O primeiro disco de dupla foi lançado em 1984, sem grande sucesso. Ele só viria em 1988 com o hit Tapas e Beijos e foi consolidado no disco Leandro & Leonardo, de 1990, com a canção Pense em Mim. A partir daí, os irmãos de Goianápolis que foram plantadores de tomate e atendentes de farmácia estouraram em todo o Brasil. Uma carreira interrompida em 1998, quando Leandro descobriu que tinha um câncer agressivo que o matou naquele ano. Leonardo continuou sozinho na estrada e sua popularidade só fez aumentar. No ano passado, mais um drama familiar. Pedro Leonardo, um dos filhos do cantor, sofreu grave acidente de carro e ficou entre a vida e a morte, mas se recuperou. Leonardo, prestes a completar 50 anos, é hoje um dos artistas mais queridos pelo público e respeitado no meio artístico nacional.

Você se considera um goiano típico, um legítimo representante do Estado?
Cara, eu sou apaixonado por Goiás, por Goiânia, que eu acho a capital mais bela do País, com o povo mais bonito do Brasil. Eu falo, divulgo em todas as partes do País em que eu vou, em algumas partes do mundo também, que igual a Goiânia e Goiás não tem. Goiás é um Estado que cresceu muito. Sabemos da evolução na agropecuária. Goiás hoje está tomado de soja, de cana-de-açúcar. É uma potência hoje em agricultura e pecuária. Como um bom goiano eu aprecio um arroz com pequi, frango, os meus botecos da vida aí de Goiânia que eu não deixo de ir nunca. E outra coisa: quando estou viajando, ai de alguém que falar alguma coisa pejorativa de Goiás ou Goiânia. Eu fico louco. Parece que xingou foi minha mãe "risos". Fico louquinho da cabeça. Fala de qualquer coisa, mas não fala de Goiânia não, porque aí eu vou mudar toda a minha atitude, vou revelar um Leonardo que ninguém conhece.

As pessoas percebem que você nunca abandonou suas origens goianas, que sempre está por aqui, que defende o Estado. Isso é algo natural para você? É uma necessidade que você tem?
É uma coisa natural para mim. Eu nunca me mudei de Goiânia. Nunca! Desde 1983, quando me mudei de Goianápolis para Goiânia, eu nunca mudei daí. Não tenho nada em São Paulo. Onde moro aqui é alugado. Tudo o que eu ganhei até hoje, tudo o que eu adquiri, comprei em Goiás. Muita gente sabe disso. Por quê? Porque eu sei que é o Estado em que eu nasci. Te digo uma coisa: a única mudança que ainda vou fazer será da minha casa, no Aldeia do Vale, para o Jardim das Palmeiras, onde já mora o meu irmão, o meu tio, pessoas que eu amo demais e que estão em outro mundo. É a única mudança que ainda quero fazer na minha vida, cara. Mais nenhuma.

A pesquisa mostrou que as pessoas também te admiram por você ter conseguido vencer, ter saído para o mundo, ter conquistado respeito fora do Estado sem deixar de ser um goiano.
Eu acho que o ser humano em si, não só o goiano, não pode negar suas origens. Aquele que nega suas origens se torna uma pessoa falsa. As origens da gente são primordiais. Eu saí de Goiânia, eu e meu irmão Leandro, num fusca velho, com um violão debaixo do braço e viemos para essa metrópole que é São Paulo, o coração do Brasil, atrás de um sonho que era o de cantar, sabendo das dificuldades, das comparações, da competitividade que sempre vão existir não só na música mas em qualquer profissão. O goiano é um cara que já nasceu preparado para o sucesso porque o goiano é um cara engraçado, sempre muito conversador, um cara que chega num lugar sempre bem. Não tem ninguém estranho para nós goianos. A gente chega com simplicidade, humildade para conversar com o mundo. Isso nos eleva muito. Todos os goianos que almejam um dia ser sucesso, façam isso com humildade, honestidade, simplicidade. Eu tenho certeza que quem colocar esses itens em sua vida alcançará o estrelato em qualquer profissão.

O pessoal se reconhece quando você puxa o “r” em suas entrevistas, porque isso é bem goiano. Você puxa o “r” mesmo, com gosto?
(Risos) Uai, a gente é assim, né bicho? É o seguinte, eu sou um cara que do mesmo jeito que eu converso com você num boteco tomando cerveja, eu converso na televisão, no rádio. Eu acho que a gente tem de ser o que a gente é, o que Deus deu pra gente. Não adianta você querer mudar. Eu estudei até o 3º ano de contabilidade, até meus 20 anos de idade, depois a minha mãe falou que eu tinha de ser doutor, mas aí eu entendi cantor e me lasquei (risos). Eu tenho um carinho muito grande com todos que se aproximam de mim, tratando as pessoas com muito respeito, não importa quem seja. Não importa que a pessoa esteja com roupa simples, de botina velha. Isso não quer dizer nada! Esse cara de botina velha poderia ser o seu patrão. Não tem diferença para mim o ser humano. Trato todos com respeito e carinho.

Na pesquisa o pessoal disse que gosta do seu jeito “desengonçado” de andar. Você é desengonçado mesmo?
(Risos) Eu acho, rapaz, eu sou meio besta mesmo. Eu tenho aquele jeitão de Nerso da Capitinga que nunca perdi, né? Eu até peço desculpas a alguns intelectuais que temos no Estado de Goiás que às vezes criticam a gente por estar num programa como o do Jô Soares, que é elitizado, ou num Fantástico e a gente falar arrastado. Não é por mal. Eu não dou conta de falar palavras bonitas, mas minhas palavras arrastadas são sinceras. Eu sou assim em qualquer lugar, na TV, no Tribunal de Justiça perante o juiz, o desembargador. Eu não posso mudar meu jeito. Não posso, não devo e não dou conta!

A pesquisa também mostrou que o sertanejo, sobretudo o mais moderno, contribuiu para melhorar a imagem de Goiás lá fora e também para a autoestima dos goianos que vivem aqui. Você concorda? 
Concordo plenamente com isso porque eu completo 50 anos no mês de julho e 25 anos atrás eu fiz parte de uma mudança radical na música sertaneja. O pessoal vinha ouvindo Tonico & Tinoco, Pedro Bento & Zé da Estrada, João Mineiro & Marciano, Trio Parada Dura - que são queridíssimos até hoje -, até os próprios Chitãozinho & Xororó. Quando surgiram Leandro & Leonardo com Entre Tapas e Beijos, de um goiano chamado Nilton Lamas, a gente recebia críticas pra caramba. Falavam que aquela seria a única música que iria estourar, que aquilo não era música sertaneja. Em seguida a gente veio com Pense em Mim e aí já foi contrato com a Rede Globo para apresentar uma Terça Nobre depois da novela. Isso marcou muito, cara. Hoje, com bons olhos, eu respeito demais Cristiano Araújo, Gusttavo Lima, Jorge & Matheus, João Neto & Frederico. Esses caras são bons demais, estão fazendo o que a garotada quer ouvir. Você vai numa balada hoje em Goiânia só ouve esses meninos porque é música dançante, pra cima, alegre. Você vai no Rio de Janeiro é a mesma coisa. Em São Paulo, a mesma coisa. A gente tem de respeitar o que o povo está querendo. A voz do povo é a voz de Deus. E como na minha época, os bons ficam e os aventureiros somem. 

O nosso rural hoje está mais urbano? Você percebe isso?
Com certeza. O rural nosso hoje misturou com o urbano. Eu, por exemplo, estou aqui em São Paulo e posso passar um e-mail lá pra fazenda e meu gerente pode me passar tudo pra mim. Modernizou tudo. Essa época da internet modernizou, misturou. Tem gente hoje que prefere morar na fazenda e não na cidade porque na fazenda ele tem tudo. Tem internet, tem isso, tem aquilo. Esse mundo on-line unificou tudo. Hoje é difícil você saber quem é o caipira e quem é o dono da fazenda.

O que você acha que tem de mais goiano? O que é mais típico de Goiás em você?
O mais típico é esse jeito besta de andar, né? (risos). Acho que o que tem de mais goiano em mim é não resistir a um arroz com pequi. Sei que o pequi me dá uma azia danada, mas se você fizer um arroz com pequi na sua casa e eu não comer é perigoso dar um troço em mim. Eu fico doente! É aquela coisa que só goiano tem, né?

Você se considera um goiano do pé rachado?
(Risos) Rapaz, do pé rachado, do pé vermelho. Eu amo esse Estado, eu amo o povo desse Estado. Não digo isso pra fazer média porque não preciso fazer média com ninguém. O Brasil inteiro consagrou Leandro & Leonardo e tudo começou aí em Goiânia. Todo mundo sabe disso. Quando eu chego aí, sou tratado com muito amor, muito carinho. Pra te dizer a verdade, estou até emocionado um pouco de falar sobre meu Estado... (pausa). Eu vi isso mais ainda com o carinho que esse povo me tratou aí com o acidente do meu filho, com a morte do meu irmão. Foram coisas ruins que aconteceram, mas que fizeram com que a gente se juntasse mais. Eu tenho os goianienses como minha família, cara. Eu amo esse povo.


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